"Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!" 1 Coríntios 9:16
Os dois endemoninhados restituídos à razão foram os primeiros missionários que Cristo enviou a ensinar o evangelho na região de Decápolis. Apenas pouco tempo haviam esses homens escutado Suas palavras. Nem um sermão de Seus lábios lhes havia caído nos ouvidos. Não podiam instruir o povo como os discípulos, que tinham estado diariamente com Cristo, eram capazes de fazer. Mas podiam contar o que sabiam; o que eles próprios viram e ouviram e sentiram do poder do Salvador. É isto que pode fazer todo aquele cujo coração foi tocado pela graça de Deus. É esse o testemunho que nosso Senhor requer, e por cuja falta está o mundo a perecer.
O evangelho deve ser apresentado, não como uma teoria sem vida, mas como uma força viva para transformar o caráter. Deus quer que Seus servos dêem testemunho de que, mediante Sua graça, os homens podem possuir semelhança de caráter com Cristo e regozijar-se na certeza de Seu grande amor. Quer que demos testemunho de que Ele não pode ficar satisfeito enquanto todos quantos hão de aceitar a salvação não forem reivindicados e reintegrados em seus santos privilégios como Seus filhos e filhas.
Mesmo aqueles cujo procedimento Lhe tem sido mais ofensivo, Ele aceita plenamente. Quando se arrependem, comunica-lhes Seu divino Espírito, e envia-os ao campo dos desleais para proclamar Sua misericórdia. Almas que têm sido degradadas a instrumentos de Satanás são ainda, pelo poder de Cristo, transformadas em mensageiros de justiça, e mandadas a contar quão grandes coisas o Senhor fez por elas, e como teve compaixão delas.
Nossa confissão de Sua fidelidade é o meio escolhido pelo Céu para revelar Cristo ao mundo. Cumpre-nos reconhecer Sua graça segundo foi dada a conhecer por intermédio dos santos homens da antiguidade; mas o que será mais eficaz é o testemunho de nossa própria experiência. Somos testemunhas de Deus ao revelarmos em nós mesmos a operação de um poder divino. Cada indivíduo tem uma vida diversa da de todos os outros, e uma experiência que difere muito da deles. Deus deseja que nosso louvor ascenda a Ele, levando o cunho de nossa própria personalidade. Esses preciosos reconhecimentos para louvor da glória de Sua graça, quando fortalecidos por uma vida semelhante à de Cristo, possuem irresistível poder, o qual opera para salvação de almas.
O convite evangélico não deve ser limitado, e apresentado apenas a alguns escolhidos que, supomos, nos farão honra se o aceitarem. A mensagem deve ser dada a todos. Quando Deus abençoa Seus filhos, não é apenas por amor deles mesmos, mas do mundo. Quando nos confere Seus dons, é para que os multipliquemos transmitindo-os a outros.
A samaritana que conversou com Jesus junto ao poço de Jacó, mal achou o Salvador, levou outros a Ele. Mostrou-se mais eficiente missionária que os próprios discípulos. Esses nada viram em Samaria que indicasse ser ela um campo animador. Tinham os pensamentos fixos numa grande obra a ser efetuada no futuro. Não viram que mesmo junto deles estava uma colheita a fazer. Mas, por intermédio da mulher a quem desprezavam, toda uma cidade foi levada a ouvir Jesus. Ela levou imediatamente a luz a seus conterrâneos.
Essa mulher representa a operação de uma fé prática em Cristo. Todo verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como um missionário. Assim que vem a conhecer o Salvador, deseja pôr os outros em contato com Ele. A santificadora verdade não pode ficar encerrada em seu coração. Aquele que bebe da água viva torna-se uma fonte de vida. O recipiente vem a ser um doador. A graça de Cristo na alma é como uma fonte no deserto, vertendo para refrigerar a todos, e fazendo com que os prestes a perecer tenham sede da água da vida. Fazendo esta obra, é recebida uma maior bênção do que se trabalhamos unicamente para nos beneficiar a nós mesmos. É trabalhando para disseminar as boas novas de salvação que somos levados perto do Salvador.
Por três anos, os discípulos tiveram diante deles o maravilhoso exemplo de Jesus. Dia a dia, andavam e falavam com Ele, ouvindo-Lhe as palavras de ânimo ao cansado e oprimido, e assistindo às manifestações de Seu poder em favor do doente e do aflito. Ao chegar o tempo em que devia deixá-los, deu-lhes graça e poder para levar avante Sua obra em Seu nome. Deviam irradiar a luz de Seu evangelho de amor e cura. E o Salvador prometeu que Sua presença estaria sempre com eles. Por meio do Espírito Santo Jesus estaria mesmo mais perto deles do que quando andava visivelmente entre os homens.
A obra que os discípulos fizeram, também nós devemos fazer. Todo cristão deve ser missionário. Cumpre-nos, em simpatia e compaixão, servir aos que necessitam de auxílio, buscando com abnegado zelo aliviar as misérias da humanidade sofredora.
Todos podem encontrar alguma coisa para fazer. Ninguém deve achar que não há lugar em que possa trabalhar por Cristo. O Salvador Se identifica com todo filho da humanidade. Para que nos pudéssemos tornar membros da família celeste, Ele Se fez membro da família da Terra. É o Filho do homem, e assim um irmão de todo filho e filha de Adão. Seus seguidores não devem se sentir separados do mundo que está a perecer em volta deles. Fazem parte da grande teia da humanidade, e o Céu os considera como irmãos dos pecadores da mesma maneira que dos santos.
Milhões e milhões de seres humanos, em enfermidades, ignorância e pecado, jamais ouviram sequer falar no amor de Cristo por eles. Fossem nossa posição e a sua invertidas, que desejaríamos que eles fizessem por nós? Tudo isso, o quanto estiver ao nosso alcance, devemos nós fazer por eles. A regra de vida de Cristo, segundo a qual todos nós devemos subsistir ou perecer no juízo, é: "Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós." Mat. 7:12.
Por tudo que nos confere vantagem sobre outros - seja educação, seja refinamento, nobreza de caráter e instrução cristã, seja experiência religiosa - achamo-nos em dívida para com os menos favorecidos; e, tanto quanto esteja em nosso poder, cumpre-nos servi-los. Se somos fortes, devemos apoiar as mãos dos fracos.
Anjos da glória, que vêem sempre a face do Pai do Céu, regozijam-se em servir aos Seus pequeninos. Os anjos se acham sempre presentes onde mais necessários são, ao lado dos que têm a mais dura batalha contra o próprio eu, e cujo ambiente é o mais desanimador. Fracas e trementes almas que têm muitos objetáveis traços de caráter são seu especial encargo. Aquilo que corações egoístas considerariam como serviço humilhante - servir àqueles que se acham na miséria e são, em todos os aspectos, inferiores em caráter - eis a obra dos puros e santos seres das cortes do alto.
Jesus não considerou o Céu um lugar desejável enquanto nós nos achávamos perdidos. Abandonou as cortes celestes por uma vida de ignomínia e insulto, e uma morte vergonhosa. Aquele que era rico do inapreciável tesouro do Céu, tornou-Se pobre, para que, por meio de Sua pobreza, nós nos pudéssemos enriquecer. Cumpre-nos seguir na senda por Ele trilhada.
Aquele que se torna um filho de Deus deve, daí em diante, considerar-se como um elo na cadeia descida para salvar o mundo, um com Cristo em Seu plano de misericórdia, indo com Ele a buscar e salvar o perdido.
Muitos acham que seria grande privilégio visitar o cenário da vida de Cristo na Terra, andar pelos lugares por Ele trilhados, contemplar o lago à margem do qual gostava de ensinar, e os montes e vales em que tantas vezes pousaram Seus olhos. Mas não necessitamos ir a Nazaré, a Cafarnaum, ou a Betânia, para podermos andar nas pegadas de Jesus. Acharemos os vestígios dos Seus passos ao lado do leito do enfermo, nas favelas, nas apinhadas avenidas das grandes cidades e em todo lugar em que há corações humanos necessitados de consolação.
Temos de alimentar o faminto, vestir o nu, confortar o aflito e o sofredor. Devemos ajudar os que estão em desespero, e inspirar esperança aos destituídos dela.
O Salvador deu a própria vida a fim de estabelecer uma igreja capaz de ajudar aos sofredores, aos aflitos, aos tentados. Um grupo de crentes pode ser pobre, destituído de educação e desconhecido; todavia em Cristo podem fazer uma obra no lar, no lugar em que vivem, e mesmo em terras afastadas; obras cujos resultados serão de alcance tão vasto como a eternidade.
Não menos que aos seguidores de Cristo outrora, são dirigidas aos de hoje essas palavras: "É-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Portanto, ide, ensinai todas as nações." Mat. 28:18 e 19. "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura." Mar. 16:15.
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